Assim como os humanos, os animais de estimação estão suscetíveis a doenças diversas. No que se refere à saúde oral, a premissa “bichos são gente como a gente” também se aplica. A boca de cães e gatos pode receber visita de bactérias nocivas e, por isso, cuidados de higiene devem ser tomados com regularidade para garantir que os animais estejam saudáveis.
Na visão da odontoveterinária Thaíssa Quintas, do Doctor Vet, ao se falar em odontologia, deve-se ter em mente a importância para além do âmbito estético. “Quando a gente pensa em saúde oral, não fala só de uma questão estética, não é uma coisa dispensável. Os animais, como nós, possuem sensibilidade e todas as questões fisionômicas que fazem com que sintam dor. A diferença é que eles são mais resistentes”, afirma.
Para a dentista veterinária Julie Minner, da Sorrivet, é importante cuidar da boca dos animais, pois problemas relacionados à saúde odontológica refletem no corpo todo. “As bactérias que estão na boca têm acesso a qualquer local que a corrente sanguínea consegue acessar, podendo chegar a qualquer outro órgão. Então, quando a gente cuida da saúde oral, está cuidando da saúde como um todo.”
De acordo com ela, o maior problema do acúmulo de bactérias é a formação de tártaro. Se não removido, pode evoluir para um quadro grave e induzir a uma destruição óssea, levando à queda dentária. Apesar de as pessoas associarem a perda de dentes à idade, a veterinária esclarece que essa condição está relacionada à falta de higienização diária, e não ao fator tempo de vida.
Para identificar a doença periodontal causada pelo excesso de bactérias, Julie dá a dica de ouro: sabe aquele bafinho que estamos acostumados a sentir ao cheirar a boquinha de gato ou cachorro? Nada mais é do que o mau hálito causado pela fermentação das bactérias: um sinal de que há um problema. “Costumamos achar que o bafinho dos animais é malcheiroso mesmo, que é normal. Mas, na verdade, não é para ser. Com o tratamento adequado e com a escovação, esse mau hálito não vai existir”, orienta.
Como cuidar?
O primeiro passo para cuidar da saúde oral de cães e gatos é criar um condicionamento positivo. Julie adverte que se o animal já estiver com algum problema, como gengivite e tártaro, a escovação, além de não surtir efeito, vai passar uma mensagem negativa. Por isso, é importante que o pet comece o tratamento com a boca saudável, ou seja, sendo jovem ou tendo feito a limpeza há pouco tempo. “A partir disso, começamos um condicionamento positivo, que é mostrar para o animal que mexer na boca dele não é algo que vai proporcionar dor. Quanto mais jovem ele estiver para começar esse processo, melhor.”
Para transmitir o comunicado de que o animal está sendo recompensado, a veterinária indica o método da premiação, que consiste em dar um prêmio, ou seja, um alimento de agrado do bichinho, como um biscoito, em pequena quantidade. Palavras carinhosas também podem servir de incentivo positivo e fazer com que eles se sintam acolhidos.
É só depois que o animal se acostuma com as recompensas que chega a hora de utilizar a escova. Ela deve ser usada diariamente ou, no máximo, dia sim, dia não, e deve ser do tipo infantil, com a cabeça pequena e as cerdas macias, para facilitar a escovação. Quanto à pasta dentária, Julie a classifica como dispensável, pois no caso dos animais, apenas a fricção mecânica é suficiente para que a higiene funcione.
Mas se, ainda assim, o tutor quiser utilizá-la, ela recomenda pastas veterinárias com sabores que o animal aceite, para não causar impactos negativos. “O que eu sugiro aos tutores é que eles coloquem um pouco da pasta no próprio dedo e deixem o animal cheirar, lamber. Se ele não tiver nenhum interesse de saber o que é aquilo, é melhor nem utilizar nada, porque senão vai fazer um condicionamento negativo.”
Segundo Thaíssa, a escovação é o único método de prevenção de problemas odontológicos. Os produtos milagrosos de prateleira de pet shop são contraindicados por ela, por serem apenas paliativos e sem comprovação científica. Além disso, o ato de roer osso, disseminado por crenças populares como uma boa forma de limpar os dentes do cachorro é um mito. “Roer ossos não limpa tártaro, não evita que a boca fique suja. Roer osso, principalmente bovino, causa muita fratura dentária e até mesmo de mandíbula. É extremamente prejudicial”, enfatiza.
Fonte: Correio Brasiliense